quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nefelibata

Já chorava há horas; e aquele soluço contido, escondido, a fim de que ninguém pudesse ouvir. Sentia-se sufocar, como se estivesse perdendo o ar. Não aguentava mais aquele aperto era como se algo machucasse cruelmente seu coração.
Pôs-se a se perguntar o porquê de perder tanto tempo lendo, ouvindo, e escrevendo a respeito de algo que não conhecera. De repente tudo lhe pareceu uma pura estupidez. Gastava horas no dia se deleitando com poemas, devaneando com lindas canções... e tentando escrever sobre o que deveria ser o amor. Enquanto todos sem atentar para a subjetivação o viviam, ela o idealizava e sonhava vivê-lo um dia.
E num instante de silêncio dos seus pensamentos, voltou-se para o passado, lhe impressionou o fato de que sempre fora assim, tão sonhadora. Lembrou de seus antigos diários, nos quais começara a desenvolver sua habilidade com a escrita. Lembrou também de seus cadernos de poemas, uns quatro a cinco talvez. E lembrou também das várias letras de músicas que por alguma razão guardava. É. Se tem algo que o tempo não lhe tirou foi o amor à poesia.
Ela sempre foi uma garota um pouco diferente do resto. Enquanto as outras queriam namorar, curtir, aproveitar... Ela sonhava em amar! Sentia-se extasiada com a possibilidade de encontrar alguém a quem pudesse amar e por ela ser amada. Estranhamente isso lhe fascinava muito!
E ao se transpor de volta ao presente, pensou que algo estava errado. Vivera a vida toda esperando por algo que acontecia pra todos menos pra ela. Como não achar perca de tempo tudo o que sonhara e esperara? O mundo continuava a girar e ela lá parada, com papel e caneta em mãos, com uma música soando em seus ouvidos, com uma história bonita na memória, com um sorriso otimista nos lábios e um olhar esperançoso no rosto. Acreditava que sua hora chegaria.
Então, num momento impulsivo de fúria, com seu rosto banhado de lágrimas, quebrou todos os seus CDs que cantavam o amor e que lhe serviam de trilha sonora quando se prostrava a sonhar, queimou todos os seus cadernos de poemas que colecionara ao passar dos anos, e rasgou todos aqueles poemas que escrevera sem porque nem pra que.
Ela quis mesmo quebrar os CDs, queimar os cadernos e rasgar os seus poemas. Ela quis. Mas decidiu que não. Que se tem algo que ninguém pode nos tirar é o que vai no coração. E que se tudo aquilo em que acreditava tinha lhe trazido até aqui é porque não é vão sonhar, não é vão acreditar no que se sente. Ainda que o amor não floresça, que não seja verdadeiro, ou que não seja correspondido; ainda que ele nunca aconteça. Ela sabe que ele existe e que é sublime. E é a idealização de tudo o que envolve o amor, e de tudo o que pode acontecer quando se há amor, que a faz sorrir feliz, e perceber que muito vale sonhar! Antes um amor solitário que vários amores falsos. Aceitou-se e não se importava mais com o que outros iriam pensar dessa busca...

Nenhum comentário:

Postar um comentário