terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Sobre o livro Fanny Hill

Com uma análise bastante pessoal teço a impressão que tive com a leitura desse livro excepcional.

Um excelente livro, que consegue traçar um panorama perfeito da vida das chamadas "mulheres de prazer", do século XVIII, em Londres. Com uma abordagem ricamente descritiva e bastante romântica até, o livro nos faz efervescer e ao mesmo suspirar diante de tantas alegorias, sensibilidade e beleza daquilo que nos é narrado. É incrível a capacidade do autor John Cleland de estimular nossa visão. A cadeia de ações envolve e inebria como se pudéssemos de fato sentir o que nos é narrado.
Ricamente temático, o livro traz um retrato de muito o que se pode esperar de uma vida voltada aos prazeres, e nos seus pormenores.
Abrangendo desde à inocência até a maturidade, aparentemente nunca alcançada quando se trata de desejos e prazer, o enredo retrata linearmente uma série de experiências nesse sentido.
Mas o ponto forte é perceber a singularidade e força da narração quando o amor é o motivo dos desejos e prazeres. E embora todo o livro pareça exaltar e enfeitar a benevolência que os prazeres podem suscitar, quando se fala em amor, é este que é verdadeiramente venerado e exaltado em sua simples e singela beleza e força.

"... Mas independentemente de eu enganar a mim mesma a respeito de ter a senhora uma opinião mais justa do meu senso e sinceridade, permita-me fazer-lhe ver que tal suposição é ainda mais injuriosa à virtude do que a mim, uma vez que, em consistência com a sinceridade e o bom caráter, isso só pode se fundar no mais falso dos temores, o de que os prazeres da virtude não aguentam uma comparação com os do vício, mas permita que a verdade ouse expô-lo sob a sua luz altamente sedutora: e então, observe quão espúrias, quão de mau gosto, quão comparativamente inferiores são as suas alegrias àquela que a virtude sanciona e cujos sentimentos não estão acima de servir de tempero aos sentidos, porém um tempero do gosto mais elevado; enquanto os vícios são as harpias que contaminam e estragam o banquete. Os caminhos do vício são às vezes alcatifados de rosas, mas também são para sempre infames devido a muitos espinhos, muitas lagartas daninhas; os da virtude são alfombrados puramente com rosas, e daquelas imarcescíveis por toda a eternidade.
Se, pois, me fizer justiça, irá considerar-me perfeitamente coerente no incenso que queimo à virtude: se pintei o vício em todas as suas cores mais alegres, se o adornei de flores, foi puramente a fim de tornar mais valoroso e mais solene o seu sacrifício à virtude." (HILL, Fanny; p. 254)

Um livro surpreendente pela novidade de conteúdo (para a época em que foi publicado), pela abordagem do tema, e linguagem utilizada, e pela suavização, quando no final, os prazeres com amor são considerados incomparáveis ante aos conquistados pelo vício.

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