Não há que se duvidar que o envelhecimento tem suas vantagens, se vier acompanhado de amadurecimento é sucesso provável, e se vier acrescentado de leituras e boas conversas, é sucesso garantido.
Tenho a sorte de estar envelhecendo e amadurecendo, ao mesmo tempo. Não, não ao mesmo tempo, estou vivenciando um amadurecimento tardio, confesso.
Mas enfim...
Não sei ao certo quando despertei pra necessidade de investir pesado no intelecto, mas sei que desde então muita coisa tem mudado. O que, por exemplo? A percepção de mundo, a empatia, e a percepção de mim mesma. Li uma vez, há anos atrás, que "quem são os outros nos mostra quem somos nós". Sem dúvida, isso me interessou bastante, tanto o é que lembro até hoje; só não recordo a autoria.Ler certos livros, conhecer certas pessoas, ouvir certas coisas, assistir a certos filmes, ter certas conversas... contribuíram e muito para o meu autoconhecimento. Sempre me identifiquei com a Clarice Lispector, Caio F. Abreu, e outras personalidades um tanto excêntricas. Eu já vivia me assustando por saber quem sou, desde antes. Mas talvez a idade tenha me feito VER com mais clareza o meu ser. E eis que me assustei.
Sou extremamente irritável, sarcástica, chata, e entediável. Não tenho paciência pra falta de educação, e gente burra ou abestalhada. E sou um pouco ciumenta. Também sou mimada, e quero tudo no meu tempo; e faço "cara" quando minha vontade é contrariada. Não tenho saco pra fazer o que não quero, e isso é um problema sério. Tenho um gosto especial pelo o que não presta. Sempre fui tudo isso!
Certo que abafei algumas posturas ou tendências no meu dia a dia. Eu poderia ser provocativa, mas optei por não ser. Poderia, por exemplo, perfeitamente provocar ciúmes naquela namorada do meu amigo, que insiste em insinuar que rola sentimento ou 'recalque' em mim em relação e ele ou ao namoro deles. Eu poderia esmagar aquela minha "amiga" que diz que me ama, mas que nunca me procura pra saber como estou, mas não perde a oportunidade de falar de seus 'peguetes' sem futuro, e só disso; assunto fútil pra uma série de conversas. Ora, a vida é bem mais do que isso! E não estou interessada em me distrair fazendo dois caras gozarem na mesma semana. Tenho algo muito melhor pra fazer. Ler um bom livro, por exemplo, e ter sobre o que conversar no dia seguinte; então ela não precisa tentar me fazer sentir que estou "pra trás". Eu poderia tirar fotos com olhares e sorrisos e poses "sensuais", e postar pra receber curtidas a torto e a direita, quando adolescente eu fazia isso - quando adolescente - e morro de vergonha (isso foi uma das coisas que o tempo levou embora, graças a Deus). Eu poderia perfeitamente sair da zona de "nada" onde estou e me exibir, mostrando o que tenho e até mesmo o que não tenho pra me autoafirmar, e me [des]integrar a não sei bem o quê! Mas optei por ser passiva a toda essa estupidez que tenho o desprazer de presenciar quase rotineiramente, e que tinge o que vejo, de um amarelo mostarda.
Não sou perfeita. Eu tô longe disso, na verdade. Muito longe. Justamente pelas coisas que citei anteriormente, que só de serem pensadas já me fazem errada. Não sou perfeita, nunca fui, e nunca disse que eu era/seria/serei. Nunca deixei de beber quando tive vontade, nunca deixei de ir a um show num barzinho porque as pessoas poderiam falar, nunca deixei de ficar com fulano porque os vizinhos poderiam falar no dia seguinte. Nunca deixei de falar sobre qualquer assunto que eu quisesse por ter medo da censura. Na adolescência, não deixei de vestir saias ditas 'curtas' porque era inapropriado. Nunca me importei com a hora de chegar com medo de dar o que falar. Nunca fingi nada.
Lamento se eu deveria ser ou uma santa ou uma literal 'vida louca'. Lamento mesmo por ser meio termo. Lamento por talvez ser tachada de "sem personalidade" ou de algo parecido. O que acontece é que não devo nada a ninguém. Nunca me esforcei pra me enquadrar a sociedade. Nunca amputei os desejos que eu julgava simples por causa das pessoas, ou por causa da religião. Sabe por quê? Porque eu sou livre! E minha liberdade vai até o limite do meu bem-estar, assim como o dos outros.
Tenho ideias loucas, (vivo ouvindo das minhas amigas, que são todas pessoas normais, que sou doida), tenho um gênio difícil, sou de achar tudo besteira. Mas é verdade, acho tudo aqui uma baita besteira mesmo. Salvo quando se trata da natureza, que é obra daquele que (ele sim) é PERFEITO!
Sou contraditória sim, por ser meio termo. Sou cheia de princípios, mas me faltam alguns valores. Não gosto de ficar na vontade. Quando gosto sempre quero de muito, mas creia que vou enjoar. E quando enjoo, frequentemente, é pra sempre.
Sou uma pessoa imperfeita, e pouco dotada de coisas bonitas, exceto o coração: esse sim me parece único no mundo, pois ele vive desapontando essa razão que insiste em achar que está no comando de tudo.
Mas eu tenho um sentido, eu tenho um alvo: JESUS CRISTO. E isso foi o que de melhor o tempo me trouxe: o conhecimento e o desejo de ser como Cristo, ou melhor, o mais próximo disso! É por ele que tenho controlado e amortecido meus sentimentos repulsivos até por mim mesma, e que envolveriam relações vingativas e vazias. É por ele que tenho me detido menos em mim, e nos meus quereres impulsivos. É por ele e com ele que optei por viver em paz. Certo que nem sempre essa paz é alegre, mas é certo também que a tristeza não faz morada.
Com certeza hei de cair em falhas muitas e muitas vezes ainda, e só hoje consigo aceitar isso. Uma das causas dos meus sofrimentos é errar. O meu nível de autocriticismo me faz pirar vez ou outra por não gostar de errar. Quando erro parece que Cristo foi apontado comigo. E isso é péssimo. Mas hoje tenho a consciência que embora exista homens bons (mesmo sem crer ou seguir a Jesus), a natureza humana é feia e mesquinha, e eu como humana não estou imune às tendências negativas a que estou exposta a todo tempo. Mas ainda preciso trabalhar nisso... O meu consolo é que Ele me conhece mais do que ninguém, mais até do que eu mesma.
O fato é que tô cansada. Cansada de tantas palavras, discursos, e blá blá blá! Cansada de ser confundida com uma "panicat" "piriguete" ou sei lá mais o quê! Será que ninguém pode mais malhar sem ser taxada de um pedaço de carne "tesudo" sem cérebro e coração?! Que merda de sociedade é essa? Que quanto mais avança mais regride na ignorância? E o pior é ter que ficar sambando doida dentro desses estereótipos usados pelas pessoas: ora de certinha, ora de "come quieto", ora de "bem resolvida" (ou de "fácil", isso parece depender do ponto de vista).
O que eu não quero é que as pessoas digam: "Nossa, mas fulana é disso, faz isso, gosta disso..." e por aí vai. Não tenho nada a ver com a imagem que tenham de mim. Eu respondo por aquilo que sou, e não pelo que pareço ser. Já diria Clarice "Se me julga pela aparência, sou o reflexo da sua ignorância." Não me esforço pra agradar, e gostaria que aceitassem isso. Se malho sou pegadora e/ou quero ser pega; se canto sobre Jesus estou sendo hipócrita, porque sou assediada, e porque canto também Strokes ou Chico Buarque. As pessoas vivem de julgar e condenar, e pouco olham pra si mesmas. Perigo são elas se acharem perfeitas. Eu não sou perfeita!! Estou no caminho da aprendizagem. Todos os dias peço para Deus iluminar meu caminho, minha mente, e me ajudar a não errar. E ele tem feito isso. Mas não é de uma vez, é aos pouquinhos que as coisas acontecem. Devo sim ser espelho de Cristo, mas muitas vezes, o meu ego vai saltar.
Não é porque sou 'marombeira', porque aos olhos de muitos sou 'gostosa' que gosto disso ou que faço disso o meu objetivo de vida. Pelo contrário, quem me dera não precisar me submeter mais a esse exercício de pegar pesado pra melhorar meu corpo que não é legal, pra evitar que a minha baixa autoestima se intensifique. Talvez por isso eu tenha uma visão tão distorcida de mim mesma. Nas horas em que me olho no espelho ainda vejo aquela menina com 16 anos, que sofria horrores por ser quem era. Ironia sou eu continuar sofrendo por ser quem eu sou, hoje.
Espero ansiosamente pelo dia em que irei ter uma imagem clara de mim mesma, enquanto mulher. Enquanto isso... vou ficar mais esperta com quem se aproxima com um papo manso, porque enquanto eu vou com a diversão de uma adolescente, o outro vai com a malícia de um adulto julgando que eu tenho a mesma percepção que ele tem das coisas. Não, eu não tenho! Não tenho pelo simples fato de não conseguir me ver, de não conhecer que poder é esse que uma mulher e seus encantos tem sobre os homens. E é compreensível que duvidem de mim, afinal, eu já saí da idade da inocência faz tempo. Mas o que posso fazer? É por isso que hoje tenho a sabedoria de que tenho que agir mais como eu deveria, e menos como eu gostaria. O difícil é e parece que vai continuar sendo, por um tempo ainda, dosar isso. Por que como vou prever minhas atitudes com base no que não conheço, no que não vivi, embora já devesse ter?
Eu sempre quero mostrar quem sou por dentro, e sempre é um tormento tanta resistência alheia. Eu sempre demoro a entender o motivo, sempre procuro descrer no que me vem à mente; parece ser impossível tanta superficialidade, mas "sabe de nada, inocente", é possível sim. São abutres "esperando" e se fazendo enquanto isso, desprezando os sentimentos, cegos pelo próprio desejo.
Eu só quero uma coisa: me deixem em paz. Sou um ser inacabado mesmo. Eu tenho coração! E vivo por ele, através dele, e com o objetivo de alimentar a ele. Sempre em primeiro lugar. Sempre.
E me deixem só.
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