"[A primeira menina por quem ele se apaixonou era de Alegrete...] será que era com essa menina que ele sentava numa pedra e trocava confidências, como no poema "Indivisíveis"? Quem sabe? Melhor que procurar resposta é se esparramar nesse que é um dos seus mais lindos achados. Ele procurou um amor assim, mas não encontrou. Pelo menos não encontrou do jeito que ele imaginava. E o Mario imaginava muito. Ah, ele vivia de imaginar." (Elena Quintana, sobrinha de Mario Quintana)
Indivisíveis
O meu primeiro amor
e eu sentávamos numa pedra
que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas, isto é,
que a gente grande achava bobas.
Como qualquer troca de confidências
entre crianças de cinco anos. Crianças...
Parecia que entre um e outro
nem havia ainda separação de sexos,
a não ser o azul imenso dos olhos dela,
olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
nem no cachorro e no gato da casa,
que apenas tinham a mesma fidelidade sem compromisso
e a mesma animal - ou celestial - inocência.
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu.
Não importava as coisas bobas que disséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto,
que não havia ali apenas duas encantadoras criaturas,
mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se,
não sabia que eles levariam procurando
uma coisa assim por toda a sua vida...
(Mario Quintana)
Li isso hoje, num livro sobre a vida do Mario Quintana, e simplesmente achei lindo. É bom saber que alguém no mundo foi tão 'imaginativo' como eu... E que não só correu o risco de ficar só, como de fato ficou, por não encontrar quem correspondesse à sua imaginação. É sempre muito confortador saber que não se é tão estranha assim...
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