segunda-feira, 28 de março de 2016

Sobre o "natural"...

Minha natureza é naturalmente errante. Tenho tendência ao contrário. Sou solitária, desinteressada. Apego-me ao que não possuo, porque não me possuem; e o que tenho entrego ao desapego, quando julgo preciso, por não precisar. Fatalmente percebo minha inclinação pelo narcisismo, aquele do qual falam os psicanalistas. É, confesso me identificar em alguns pontos. Não com orgulho, faça-se saber.

Pela crença que tenho, eu deveria servir. Não faço objeção quando tenho a oportunidade, mas se essa oportunidade precisa vir até mim, sinto-me acomodada demais. Eu queria ir! Mas não tenho impulso. As pessoas, em sua maioria, cansam com suas ladainhas sem fim. Por não ter saco para isso, já não me abro mais. Eu tenho Deus, e converso com ele. Na maioria das vezes, apenas ele pode resolver mesmo. Ajuda material se torna mais fácil do que ajuda auditiva, mas dinheiro não tenho. E eu sei que mais digna de atenção é a necessidade da alma, pois esta é que nos faz viver de verdade.

Por isso, frequentemente sofro. Porque não quero ser indispensável, nem quero precisar. Entenda que não se trata de autossuficiência, mas de liberdade. Sei que sozinha não dá pra viver, mas não quero depender. E nem poderia, já que também não sei cultivar. Não sei se por falta de jeito ou de vontade. Acredito que seja de vontade, porque há amigos que faço questão dos quais lembrar; e tantos outros que embora eu não os procure, sempre vão me encontrar. Mas e os laços? Com poucos tenho. E conforme o tempo tem passado, os íntimos só diminuem. Não sei ainda se é fase, período de ponderação, de autoavaliação... e que por isso, nesse novo momento os velhos amigos não caberão, por corresponderem a um "eu" que não existe em tal totalidade mais.

Acho natural que no caminho do amadurecimento eu me perca de pessoas que não correspondem ao que eu quero em tal momento. Não bate mais. Mas não deixo de me sentir culpada, e sinto que se eu forçar me sentirei ainda mais.

A reclusão tem isso de bom: traz reflexão e autoconhecimento e com isso evolução, mas há uma linha tênue entre a força que se ganha te impulsar para fora ou te jogar pra dentro de si mesmo. Eis que o perigo habita aí. E sinto não poder fazer nada agora.

“ Fui feita pra ninguém precisar de mim.
— Clarice Lispector, em "Um Sopro de Vida"

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