terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sobre o "De profundis"

Sempre fui fã do Oscar Wilde e de sua maneira poética, reflexiva e irônica, se assim posso dizer, de escrever. Lembro do livro a quem devo essa paixão: "O Retrato de Dorian Gray", que me conquistou nos mínimos detalhes, desde o enredo até às falas, cínicas e cheias de vaidade, do Lord Henry Wotton.

Lendo "De profundis" o livro composto por cartas escritas por Wilde para seu 'amigo' Lord Alfred Douglas, enquanto aquele estava na prisão, como consequência da influência deste, eu passei a admirar ainda mais a literatura de Wilde, e a personalidade desse escritor excepcional.

Me apaixonei ainda mais por Oscar Wilde... Em meio a tanta amargura, decepção, tristeza e ainda assim amor, Wilde surpreende quando atribui aos seus escritos uma atmosfera transcendentalmente leve e bela, e para mim, extraordinária! Eu nunca tinha enxergado a pessoa de Jesus sob essa perspectiva, e hoje, ela me parece a mais sensata e real, e cheia de sentido. E olhe que ainda no início do livro, Wilde se afirma ateu. Que mudança... linda por sinal. Eu destaquei algumas das partes mais poéticas pra mim, mas a parte que corresponde da pág. 91 a 119, merecem total destaque em tudo que é dito.

Ao narrar o conhecimento de sua própria alma, se assim posso dizer, Wilde parece se entregar ao que tanto vinha resistindo, depois de se encontrar "sem nada" além de si mesmo: "... prostrei-me de joelhos, curvei a cabeça e chorei, exclamando: 'O corpo de uma criança é como o corpo do Senhor, eu não mereço nenhum dos dois. Aquele momento pareceu salvar-me.' Percebi então que a única coisa a fazer seria aceitar tudo. (...) Quando conhecemos a nossa alma, tornamo-nos simples como crianças, tal como Cristo ensinou que deveríamos ser."
Falando da personalidade de Cristo, e sua suprema individualidade, se refere a sua proposta de vida e o alia aos poetas: "Não há dúvida de que o lugar de Cristo é junto aos poetas. Toda a sua concepção de humanidade brota diretamente da imaginação e só pode ser realizada a partir da imaginação." E ainda fala de um Jesus Romântico: "Mas onde quer que haja um movimento romântico na arte, lá estará também, de alguma maneira e sob alguma forma, Cristo ou a Alma de Cristo. (...) Ele invoca nossa inclinação pelo fantástico, criando em nós um estado de espírito singular, o único que nos torna aptos a entende-lo."
Wilde é perfeito quando associa a imaginação à luz e ao amor: "Ele (Cristo) vê todas as belas influências da vida como formas de luz. A própria imaginação é o mundo da luz - é ela que faz o mundo - e, no entanto, ele não consegue entende-la porque a imaginação é simplesmente uma manifestação de amor e são o amor e a capacidade de amar que distinguem um ser humano do outro."
E noutro trecho do qual muito gostei, Wilde diz: "E na verdade, quando tudo está dito, esse parece ser o encanto maior de Cristo: ele é como uma obra de arte. Não chega a ensinar-nos nada, mas quando trazidos à sua presença acabamos por nos tornar alguma coisa. E todos estão fadados à sua presença: pelo menos uma vez na vida, cada um de nós caminha para Emaús ao lado de Cristo."

Muitas são as coisas ditas que me encantaram, pena não poder reproduzir todas aqui... Tudo que li me soa lindo até o presente momento, e tem me mantido aquém. Talvez eu tenha me encontrado, agora. Pode parecer bobagem, mas não me sinto mais só, me sinto perfeitamente compreendida por Wilde, e principalmente por Jesus. Só quem tem uma alma romântica se entende. E arte é isso!! Transpor as barreiras da razão...

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